CONCEITO BÍBLICO DE
MILAGRE
INTRODUÇÃO
Numa
definição bíblica de milagres como, acontecimento surpreendente atribuído à
presença e ação de poder divino; fenômeno extraordinário, que contraria o curso
normal dos acontecimentos na natureza e na existência humana. Assim, tentando
vencer os conceitos negativos na aceitação dos milagres ocorridos no Antigo
Testamento, demonstrando sua importância para nossa fé na divindade e mostrando
em qual categoria está cada milagre de Josué e Juízes, assim como, o
afastamento de um perigo iminente, a cura de doenças e a dádiva de abundância
aos necessitados.
Segundo
alguns teólogos protestantes contemporâneos, os milagres seriam apenas
fenômenos naturais mal interpretados pela ignorância e pela credulidade. A
ciência de um modo geral tende negar os milagres, porém, como lidar com essas
realidades? Milagres: negá-los ou interpretá-los? Na realidade veremos o
conceito cristão de milagres relacionados com a fé e a cultura a seu redor e
tentar compreendê-los a partir de uma visão bíblica. Considerando os conceitos
bíblicos de milagre, delimitando os milagres como ação de Deus com objetiva
claro na modificação de curso normal da natureza, e a importância dos milagres
do Antigo Testamento especialmente Josué e Juízes para a fé contemporânea.
Considerando a relevância científica, a compreensão dos fenômenos miraculosos e
uma formação errônea da interpretação de milagres, e como relevância social à
explicação desses temas às comunidades eclesiásticas. As pontas de pesquisa
serão compostas de livros e comentários bíblicos e materiais teológicos, nosso
problema é definir milagres, negá-los ou interpretá-los, nossas hipóteses, os
milagres não constituem um problema quando procura explicar sua fé e
relacioná-la com a cultura a seu redor; e rever o nosso conceito cristão de
milagres.
CONCEITO BÍBLICO DE MILAGRE
Contra Os Processos Observados Na Natureza:
Não podemos afirmar com toda propriedade
que aquilo que definimos como milagre transcende de forma completa toda e
qualquer lei da natureza. J. D. Douglas nos afirma:
Grande dose de confusão sobre a questão dos
milagres tem sido provocada pela falta de observância que as Escrituras não
distinguem claramente entre a constante providência soberana de Deus e seus
atos particulares. A crença nos milagres aparece no contexto de uma cosmovisão
que considera a criação inteira como continuamente dependente da atividade
sustentadora de Deus e como sendo sujeita a sua vontade soberana.
Do
ponto de vista do escritor, milagre só pode ser entendido como ação do Todo
Soberano Deus, e só crendo em Deus podemos crer nos atos da divindade, sem a
crença na divindade não há como compreender a ação dela na sua criação. Devemos
deixar claro que quando falamos de milagre não queremos dizer, necessariamente,
a interrupção de um desenvolvimento natural, e nem se trata de uma busca
doentia de relacionar os acontecimentos tidos como milagrosos, e sim uma
tentativa bem intencionada de mostrar a interface entre milagre, operação
sobrenatural divina e lei da natureza. Sobre esta realidade nos afirma o
professor C. S. Lewis.
A única questão é se, concedida a existência
de um poder fora da natureza, existe qualquer absurdo intrínseco na idéia de
sua intervenção a fim de produzir na natureza eventos que o “funcionamento” regular
de todo o sistema natural jamais teria produzido.
Isto é algo
real, pois se reconhecermos e aceitarmos a existência de um poder sobrenatural,
isto não significa uma quebra de leis naturais que vieram a produzir algo que
não, necessariamente, produziram se aquelas não tivessem sido alteradas. A
existência e atuação do poder não significam total e completa alienação do
ciclo natural das coisas.
O milagre não
é o desrespeito às leis da natureza, mas à manipulação destas.Sobre isso
confirma C. S> Lewis: “a questão de os milagres ocorrem ou não é apenas uma
questão de a natureza ser ou não manipulada”. 3
Manipular não
significa, claramente, anular, como nos mostra o autor supracitado.
Imaginemos uma macieira que, de forma
fictícia, de apenas por mês três frutos. Tal realidade já foi comprovada
cientificamente, sendo que o contrário é tido por `impossível´. E de repente,
Deus resolve que por mês aquela macieira deve dar vinte frutos. O que houve foi
um verdadeiro milagre, uma quebra do que era o freqüente. Agora analisemos:
sendo uma macieira é claro dá maçãs. Ela dava apenas três maçãs por mês. Após o
milagre passou a dar vinte maçãs por mês.
Bem, agora pergunto: sendo três ou vinte maçãs a árvore que gerou deixou de ser
uma macieira? A resposta é não. Não houve a quebra de lei natural da macieira
reproduzir seu fruto, somente a manipulação através de um acontecimento não frequente.
Na
realidade o poder do criador sobre a utilização da criação. Por sua soberania
sem quebrar as regras naturais. O professor C. S. Lewis acrescenta-nos que.
O milagre do ponto de vista do cientista, é
uma forme de manipular, adulterar (...). Ele introduz um fator novo na
situação, a saber, a força supranatural, que não fora considerado pelo
cientista.
Daí
compreendermos que milagre, no ponto de vista científico, é um adulterar das
leis da natureza, uma mudança sobrenatural de uma realidade já existente.
Há
um mau entendimento de milagre por haver uma forma errada de seu significado a
realidade do que ele verdadeiramente seja. De acordo com Francisco da Silveira
Bueno, catedrático da língua portuguesa da U.S.P., “milagre é um feito
extraordinário que vai de encontro às leis da natureza”. 6 Ou seja,
quando compreendermos a definição de milagre podemos então aceitá-lo.
As
leis naturais nuca vão se tornar barreiras para que milagres ocorram. C. S.
Lewis nos assegura que: “a verdade necessária das leis, longe de tornar
impossível as ocorrências de milagre, assegura que se o supranatural estiver
operando eles devem ocorrer”. 7 Logo não há anulação, mas
modificação do que é natural.
Entretanto
os milagres, de um ponto de vista bíblico, possuem propósitos e significados.
Levando-se em consideração que as ações de Deus têm significado e propósitos
específicos. O autor supracitado nos mostra que.
O milagre não é de forma alguma um
acontecimento sem uma causa ou sem resultados. Sua causa é atividade de Deus;
seus resultados seguem a lei natural. Quando ele avança (i.e. no período que se
segue às ocorrências) ele se acha interligado com toda a natureza com todos os
demais eventos. Deus age através do natural, isso é indiscutível, por isso, que
Ele criou tudo que existe ao nosso redor, para que fosse instrumento de
manifestação de Sua glória e poder.
Tudo que acontece tem ação do
criador sobre a obra criada, Deus pode agir no natural, naquilo que se tornou
regra, pois ele foi quem criou tudo que existe. Falando sobre milagres
bíblicos, Antônio Neves de Mesquita nos respalda dizendo o seguinte acerca da
queda do muro de Jericó:
Muito se tem discutido sobre este fenômeno.
Não há o que discutir. Deus provocou um terremoto, a que aquela região, é muito
dada, e os fundamentos da cidade foram levantados, fazendo inclinar os muros de
dentro para fora.
Deus controla
a natureza e pode usá-la para desenvolver os seus desígnos. O poder de Deus é
indiscutível. O autor supracitado continua dizendo que.
Há os que também afirmam que o evento se deu
pelo fato de uma grande multidão de pessoas marchando em volta de um dos muros,
durante sete dias, fazendo com que desta forma a terra fosse abalada e com ela
a estrutura do muro, levando-o abaixo no sétimo dia mediante o impacto das
vibrações sonoras emitidas pelas vozes dos israelitas ao gritarem. Seja como
for, vimos que o natural ou natureza não foi deixada de lado, dentro dos
propósitos de Deus.
Seja como for,
o poder de Deus foi ali caracterizado e de qualquer forma os propósitos Dele
serão executados. Sobre a travessia do Jordão, o autor nos relata que.
A região do Jordão, e de toda a
Palestina, é muito dada a terremotos e abalos.
sísmicos. É possível que, em outras
oportunidades fenômenos parecidos tenham ocorrido, pois um pequeno abalo na
região do Rio corta facilmente o seu curso, abrindo outra rota, logo após
fechado.
Existem, é
claro, acontecimentos miraculosos que realmente transcendem qualquer tipo de
vínculo com as leis da natureza, e analisando este milagre, levando em
consideração a soberania de Deus... Para C. S. Lewis: “ao chamá-los milagres
não queremos dizer que sejam contradições ou abusos, mas sim que, deixada aos
seus próprios recursos, ela jamais poderia produzi-los” 12. As
forças divinas são indiscutíveis.
O Nosso
Conhecimento De Natureza É Limitado
Quando
verificamos o significado de natureza vemos nossas limitações em conceituá-la.
Pra Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, natureza é: “força ativa que
estabeleceu e conserva a ordem natural de tudo quanto existe” 13. A
partir desse conceito analisamos que o nosso conhecimento sobre a natureza ou
acerca do que é natural é aquilo que vemos como uma ordem pré-estabelecida, das
coisas existentes.
Conceito de
Milagres
Existem vários vocábulos
hebraicos, aramaicos e gregos que são empregados na Bíblia para se referir à
ação de Deus sobre a natureza, que em português são traduzidos como milagres,
maravilha, sinais, poderes etc., são eles: (mõpeth, niphlã´oth, themãh e
gebürã).14
De
acordo com J. D. Douglas: “as palavras usadas em nossa versão portuguesa
preservam em geral, embora que nem sempre em instâncias particulares, as três
ênfases distintas dos vocábulos originais”. 15
Para
o autor supracitado, esses vocábulos caracterizam a atividade de Deus como.
Distintas, maravilhosas; expressos pelos
derivativos hebraicos da raiz PL’, ‘ser diferente’, especialmente o particípio
NIPHLÃ’ÔTH (ex. Êxodo 15:11; Josué 3:5), pelo termo aramaico THEMÃH (ex. Daniel
4; 2,3; 6:27) e pelo termo grego TERAS (ex. Atos 4:30; Romanos 15:19);
Poderosas; expressas pelo termo hebraico
GEBHÜRÂ (ex. Salmos 106:2; 145:4) e pelo termo grego DUNAMIS (ex. Mateus 11:20;
I Coríntios 12:10; Gálatas 3:5); Cheias de sentido, significativas; expressas
pelo termo hebraico ‘Ôth (ex. Números 14:11; Neemias 9:10), pelo termo aramaico
‘ÂTH (ex. Daniel 4:2, 3; 6:27) e pelo termo grego SEMEION (ex. João 2:11; 3:2;
Atos 8:6).
Existe
grande dose de confusão sobre a questão de milagres, pois as Escrituras não
diferenciam, de maneira clara e evidente, a constante provisão de Deus ao seu
povo, de modo soberano, dos seus atos particulares.
O
autor supracitado diz que: “todos esses três aspectos da atividade divina –
maravilha, podre e significância – acham-se presentes não apenas nos atos
especiais, mas igualmente na ordem inteira da criação (rom. 1:20)”. 17
A
palavra “NIPHLÃ’ÔTH” que vimos anteriormente significando “maravilhas”, no
livro de Jô esta se refere aos conhecimentos naturais (Jô 5:9, 10). Sendo
assim, fica difícil entender, quando os escritores bíblicos se referem aos atos
poderosos de Deus. Segundo J.D. Douglas.
A descoberta, digamos, de ligações causais
entre as diferentes pragas do Egito, uma repetição do bloqueio das águas do
Jordão..., não poderiam por si só contradizer a afirmação bíblica que o livramento
da escravidão egípcia, a entrada em Canaã são atos poderosos de Deus. As ‘leis
naturais’ são descrições daquele universo no qual Deus está sempre ativo. É
somente por uma torção filosóficas em base que essas coisas são relutadas como
operações autosustentadoras dentro de um sistema fechado ou de rígidos decretos
de um Deus que pôs o universo em movimento para que funcionasse como se fosse
uma máquina qualquer.
Para
alguns filósofos Deus criou o universo de maneira perfeita e imutável, então
porque haveria a necessidade de uma interferência sobrenatural? Entretanto,
essa idéia é um conceito errado sobre Deus e a imutabilidade, pois ser imutável
não quer dizer inoperante.
Convêm-nos
ainda destacar, a diferença de milagre e curso natural, ressaltando o significado
do vocábulo ‘ÔTH (sinal) no Antigo Testamento, que para J. D. Douglas quer
dizer:
Uma marca externa ou objeto que tem a
intenção de transmitir uma mensagem distintiva, como por exemplo, pendões
distintivos das tribos (cf. Números 2:2) a circuncisão (cf. Gênesis 9:12);
Condições atmosféricas que indicam a vontade
de Deus, como por exemplo, o sol e a lua (cf. Gênesis 1:14); o arco-íris (cf.
Gênesis 9:12);
Obras
de Deus. Isso pode ser visto no relato do êxodo, onde as pragas são descritas
como sinais (cf. êxodo 4:28; 7:3; 8:23); o êxodo, com a travessia do Mar
Vermelho, e com a destruição do exército egípcio, provê o exemplo supremo de
tais sinais e maravilhas (cf. Deuteronômio 4:34; 6:22 7:19). Essa convicção se
encontra por todo o Antigo Testamento (por exemplo, Josué 24:17; Salmos 78:43;
Jeremias 32:21; Neemias 9:10), enquanto que a Israel foi assegurado que quando
Deus se revelasse novamente haveria ‘sinais e maravilhas’ prenunciando a us
avinda (Joel 2:30).
Para
alguns questionadores, milagres como o descrito em Josué no capítulo dez a
partir do versículo doze, quando o sol e lua são detidos, é improvável este acontecimento
porque aconteceria catástrofes gigantescas no planeta. Por outro lado, quem
teve poder para detê-los também o tem para evitá-los, milagres é questão de fé,
como nos afirma J. D. Douglas.
A operação de milagres visa o aprofundamento
da compreensão do homem sobre Deus. Essa é a maneira de Deus falar
dramaticamente para aqueles que têm ouvidos para ouvir. As histórias de
milagres estão intimamente envolvidas com a fé dos observadores e dos
participantes, e com a fé daqueles que as lerão ou ouvirão posteriormente.
Se
não houver fé na criação como fruto da obra divina, não será possível entender
a intervenção de Deus na obra criada. Não podemos deixar de considerar a
questão da fé dos envolvidos nos milagres. De acordo com J. D. Douglas:
Apoiando esta interpretação, pesquisas
revelam que fontes egípcias, chinesas e hindus conservam antigas narrativas de
um dia prolongado... relatam que certos astrônomos chegaram à conclusão de que
falta um dia inteiro em nossos cálculos astronômicos. Rimmer declara que o
professor Pickeiring do observatório de Marvard fixou este dia num período que
coincidiria com a época de Josué.
Sendo
assim, embora haja vários questionamentos sobre milagres na bíblia e muitos
queiram interpretá-los, sabemos que somente um Deus soberano e ativo na
história poderia fazê-los. Cremos que só o Criador da natureza; terra, sol, lua,
homens etc., tem o poder para alterá-los.
Na
verdade milagre e atos poderosos de Deus estão relacionados entre si. De acordo
com o autor supracitado.
Quando os escritores bíblicos se referem aos
atos poderosos de Deus, não podemos supor que eles fizessem distinção entre o
curso da natureza e os milagres pela motivação peculiar, visto que
consideravam que todos os acontecimentos são motivados pelo poder soberano de
Deus. Os atos específicos de Deus lançam luzes sobre o caráter distintivo da
atividade de Deus em geral, diferente da atividade dos homens e mais
especificamente ainda, da atividade dos deuses falsos e superior a ela, pois
exibem-no como sendo todo poderoso, revelando-o na natureza e na história.
Deste
modo entendemos que Deus é soberano, sendo assim por ter criado todas as coisas
pode alterar ou influenciar diretamente para modificá-las.
Para
compreender os milagres é importante manter em mente que o conceito bíblico é o
de um evento que contraria os processos observados na natureza, como o nosso
conhecimento da natureza é limitado não devemos pensar em milagres como um
rompimento irracional do padrão natural, na realidade os milagres bíblicos têm
o objetivo nítido de colocar em relevo a glória e o amor de Deus, sendo intervenção
direta de Deus nos assuntos humanos, que só poderá ser entendido através da fé.
Se não crê num criador, não há como entender milagres.
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